Cotidiano

Sou jovem pra ser velha

Ano após ano, o aniversário chega e com ele a idade avança. Para muitas mulheres isso pode representar desconforto, pois começam a aparecer sinais no corpo anunciando que a juventude está indo embora.

Por outro lado, mulheres de sucesso, atrizes de cinema e de novela encaram o tempo e a idade como sinônimos de maturidade e procuram explorar a experiência que adquirem com os anos de profissão a favor delas, uma grande inspiração!

Eu tenho a sensação de que a minha cabeça tem uma idade e o corpo outra. E num bate-papo com algumas amigas de infância, percebi que elas também sentem isso, constantemente. A gente sente a leveza e o bem-estar da juventude, a segurança da maturidade feminina, mas o corpo sente as dores musculares dos anos vividos.

A música “Aquela dos 30”, de autoria do casal Lucas Lima e Sandy, fala bem disso.

[…]Tenho sonhos adolescentes

Mas as costas doem

Sou jovem pra ser velha

E velha pra ser jovem

Tenho discos de 87 e de 2009

Sou jovem pra ser velha

E velha pra ser jovem […]

Eu sou suspeita pra falar, pois sou fã dessa dupla e de todo o trabalho que eles vêm desenvolvendo juntos. Mas essa canção diz tanto pra mim e pra tantas mulheres que já entraram ou já passaram na casa dos 30 anos.

A artista plástica, Pollyana Rayssa Borges, formada em arquitetura, descobriu na arte a realização profissional e se vê mais feliz e agradecida pela mulher que ela é hoje, mas mesmo assim “tenho a impressão de ter uma mente mais jovem do que minha idade, e pra falar a verdade, me espanto um pouco com o passar muito rápido dos anos”, considera.

E vamos parar pra pensar um pouquinho…será que os anos passam rápido ou a gente está atolado de tarefas e atividades que nem se dá conta de que o dia continua com 24h?

De acordo com a psicóloga Gema Sánchez Cuevas, que escreve pro site A Mente é Maravilhosa, “a melhor idade sempre é aquela na qual nos encontramos e conquistamos o equilíbrio. E, de fato, isso é mais fácil de fazer em idades mais avançadas”.

É o que considera também a médica Sanmya Santos, ela diz que maturidade trazida pela idade lhe ajudou a lidar de uma melhor forma com a ansiedade. “Hoje tenho mais consciência da minha mente e corpo, reconheço melhor os meus limites e controlo muito melhor minhas crises de ansiedade… posso dizer que consigo até evitá-las grande parte das vezes”.

Intensivista, Sanmya lida diariamente com pacientes graves e pra isso ela pratica o autocuidado diário. “Estou numa fase de muito autoconhecimento e autocuidado… isso faz um bem absurdo, ajuda-me a ser melhor pessoa, esposa e médica”.

Ah, se toda mulher praticasse o autocuidado. Como o próprio nome diz, o autocuidado se refere ao conjunto de ações que cada indivíduo exerce para cuidar de si e promover melhor qualidade de vida para si mesmo, ou seja, tudo que vamos realizar na vida – objetivos, desejos, prazeres e interesses devem estar alinhados com um grande propósito: cuidar de nós mesmos.

São atitudes diárias que nos ajudam a ter mais qualidade de vida, como ter uma alimentação balanceada – comer mais alimentos da feira e menos industrializados; praticar atividades físicas; socializar-se; ter planejamento financeiro; cultivar a espiritualidade; estar próximo da natureza.

A psicóloga Carmem Leonora Bonfim lembra que é muito importante nos sentirmos bem conosco “e assim, teremos uma vida saudável nos aspectos físico, psíquico e espiritual. Porém, só será possível se tivermos cultivado isso durante todo o nosso percurso de vida. Os anos chegam e às vezes nem nos damos conta disso.  E então, começamos a perceber o cansaço que antes não tínhamos, a  memória que às vezes falha, as dores no corpo que muitas vezes aparecem e também surgem as perguntas sobre qual o sentido da nossa vida”.

Pra mim, essa angústia sobre o tempo me afeta, principalmente, diante de algo que ainda não conquistei e me falta tempo pra conquistar, assim como este trecho da música da Sandy:

[…]Tempo falta

E me faz tanta falta

Preciso de um tempo maior

Que a vida que eu não tenho toda pela frente

E do tamanho do que a alma sente […]

É como se vivêssemos o luto por não sermos mais tão jovens. “Muitas vezes vivemos o luto de como éramos: jovens e saudáveis. E para enfrentarmos uma nova fase da vida, pode ocorrer uma negação e a não aceitação dessa nova etapa porque ao mesmo tempo existem todas essas dificuldades trazidas pela idade, como as dores no corpo, a memória que falha, o cansaço. Por outro lado, sentimo-nos mais preparados para os desafios da vida, ou melhor, nos sentimos mais amadurecidos”, explica a psicóloga Carmem Leonora.

E viva a maturidade! Quem não deseja ter 20 anos com a cabeça de 30 ou 40? A gente evitaria tantos conflitos desnecessários…porém, não podemos parar no saudosismo ou luto. É o que orienta Carmem Leonora: “Ao invés de ficarmos nos olhando e nos lamentando, podemos continuar a viver a vida do modo como ela se apresenta a nós, valorizando mais as nossas conquistas e os nossos aprendizados. Basta olharmos ao redor e percebermos o quanto fizemos por nós e também pelos outros e, assim, entenderemos que não vivemos só. Iremos sempre precisar do outro para nos relacionarmos e também para nos descobrirmos como pessoas”.

Então, acho que já devemos começar a fazer uma lista de coisas que já conquistamos e vamos conquistar ainda mais com a maturidade que temos hoje. Sem esquecer de quem somos, de nos cuidar e proteger e estar ao lado dos nossos, de quem nos faz bem e quer a nossa felicidade. Afinal, “fixar-se no presente ajuda a aproveitar mais os momentos que a vida nos oferece”, reforça Carmem Leonora.

*Imagem de mrahmedmostafa007 por Pixabay